quinta-feira, 30 de junho de 2011

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Ela estava guardando suas compras em sacolas plásticas. De onde eu estava, só conseguia ver seus cabelos presos em um rabo de cavalo, sua nuca branca, e seus contornos até a cintura. Usava uma blusa riscada em alguma variação de rosa e branco. Mudei de lugar para que eu pudesse vê-la melhor. Ela era alta, esguia. Usava um jeans azul e uma sapatilha com cor de burro fugido. Ela era mais jovem do que eu imaginei. Ainda tinha espinhas no rosto, nariz pontudinho - mas não era daqueles finos e pontudos, era cheinho, e pontudinho. Seus olhos estavam fixos em seu trabalho de empacotar suas compras e colocá-las em seu carrinho. Sua feição era triste, cansada, como se tivesse de lidar com assuntos maiores do que sua idade a permitia, ou como se tivesse com a cabeça cheia de problemas dela e de outras pessoas. Ela tinha o tipo de quem se preocupa com as pessoas. Perdi-me pensando na razão que poderia estar deixando-a tão atordoada. Daria muitas das minhas poucas coisas para vê-la sorrindo. Não qualquer sorriso, mas um sorriso que só ela poderia ter, o dela, o especial. Porém, ela não o sorrira para mim. Nem para a moça do caixa que logo lhe mostrou o valor de sua compra, ela pagara. Pagara com o cartão do supermercado, e sorrira um sorriso amarelo para a moça do caixa, que não retribuiu o sorriso. E então suspirou. Um suspiro doído, como se algo a estivesse atordoando lá na alma. Pegou suas compras e seguiu. Meu olhar a acompanhou até onde pôde, e eu sabia que nunca mais a veria. E eu quis que alguém a fizesse feliz. Será que algum ser poderia ter a felicidade de arrancar dela um sorriso sincero? A batizei de Isabela. Sempre gostei desse nome. Se um dia eu tivesse uma filha, sempre disse que poria esse nome. Mas como eu nasci um homem sem filhos, fiquei apenas imaginando-a e desejando que alguém a fizesse feliz, mesmo sem saber se alguém já fazia esse trabalho.

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