segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Saía de sua casa todos os dias, às sete da manhã, Bruno. Sempre esperava quinze minutos até que sua condução chegasse e que ele adentrasse na mais altiva aventura de esperá-la, Laura. A primeira vez que a vira, ela usava um jeans colado e azul, uma blusa de uniforme de alguma empresa que Bruno não pode distinguir. Seus cabelos estavam presos a um rabo-de-cavalo alto e ela, com absoluta certeza, tinha chorado. Laura jamais o perceberia, se ela, ao sentar-se no fundo do ônibus, não olhasse sempre para frente, pois ele veio, silenciosamente, e se sentou ao seu lado. Ele usava um jeans azul surrado, uma camisa de algum time de futebol azul com amarelo, que ela pensou ser das organizações tabajara. Bruno sentia um perfume doce de lavanda, que o irritava de uma forma tão aguda que ele se levantou e desceu no ponto mais próximo. Decidiu ir andando até o trabalho. Chegou meia hora atrasado e seu chefe insistira em saber porquê. Teve de enrolar qualquer história sobre engarrafamento, acidentes, e pneus furados. Laura, ao chegar à empresa, logo foi ao banheiro, soltou os cabelos cacheados, passou maquiagem e repetiu três vezes que tudo estava bem. 
No outro dia, ao fazer o mesmo percurso, ele se lembrou do cheiro de lavanda, e da menina encantadoramente linda e de olhos vermelhos por lágrimas que ele vira ontem. Esperou ansiosamente para vê-la, mas por muitos dias não a viu. Quando suas esperanças já se esvaíam, ela entrou. Cabelos soltos, jeans colados às coxas, blusa de uniforme, e novamente nada de conseguir olhar o nome da empresa. Se sentou ao seu lado. Bruno sentiu um estranho arrepio, como se ela tivesse se sentado ao lado dele pelo magnetismo ou pela força do pensamento. Ele ensaiou várias formas de conversa até que percebeu que a bolsa dela estava aberta. Decidiu, timidamente, dizer: "Sua bolsa está aberta". 
A garota definitivamente não se moveu. Nem um olhar, nem uma manifestação de nenhum membro do corpo.  Mesmo se sentindo completamente idiota, tentou novamente: "Moça, a sua bolsa... está aberta" - E encostou delicadamente no braço dela. Laura virou-se subitamente, como se tivesse tomado o maior susto da vida. Olhou no fundo dos olhos dele, afastou os cabelos e tirou o fone de ouvido: "O que foi que disse?" 
"Sua bolsa, está aberta" 
"Ah, obrigada. Eu sou a Laura."
"Bruno."
"Tenho de descer, obrigada novamente."
"Tchau"
Foi a última vez que estivera com ela fisicamente. Desde então entra todos os dias na condução esperando ansiosamente para vê-la, enquanto o cheiro irritante de lavanda fica apenas em memória. Sonhara com ela inúmeras vezes, e ela sempre desaparecia em alguma das melhores partes. Talvez fosse para ser assim. Apenas no plano ideal, e não real. 

2 comentários:

  1. O problema é esse quando o plano é ideal e não real... por que as vezes tudo que agente quer é que o tal plano saia do sonho, ultrapasse a imaginação e vire realidade... mas talvez seja querer demais, nê?!
    Gostei da história!! =D

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  2. Adoro histórias assim, que me fazem pensar em diversos finais ! Ah, espero que se reencontrem ): !

    .. Talvez tenha encontrado algumas respotas para minhas cartas sem destino, alguém que diferentemente de Anita, não me responde com um vazio, mas me deixa algo para refletir, pensar. Você não sabe como suas palavras me reconfortaram, me fizeram bem. Abro um sorriso por saber que não sou a única a desejar coisas tão .. assim, sabe ? haha, de verdade, obrigada pelo recado ! :)

    beeijos !

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