sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Capítulo XXI

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A aventura do elmo de Mambrino.


Começou a chover, mas nossos heróis seguiram seu caminho, até que Dom Quixote avistou um homem a cavalo trazendo sobre a cabeça uma coisa que brilhava como ouro. Virou-se para Sancho e disse:
- Onde uma porta se fecha, outra se abre. Digo isso porque, se na noite passada nos foi fechada a porta de uma aventura, quando nos enganamos com o pilão barulhento, agora outra se abre de par em par. Lá vem vindo alguém com o elmo de Mambrino na cabeça.
- Olhe muito bem o que está dizendo, senhor, e melhora ainda o que faz - disse Sancho.- Eu não gostariade que se enganasse de novo, como na aventura do pilão.
- Por Deus, homem! - retrucou Dom Quixote. - Que é que tem que ver elmo com pilão?
- Não sei - respondeu Sancho.- Mas, se eu pudesse falar  tanto quanto antes, talvez lhe explicasse por que o senhor está enganado.
- Como posso estar enganado? Por acaso você não está vendo aquele cavaleiro que vem vindo num cavalo zaino, com a cabeça coberta por um elmo de ouro?
- O que estou vendo é um homem montado num asno, pardo como o meu, que tem na cabeça uma coisa brilhante - respondeu Sancho.
- Pois entã? Esse é o elmo de Mambrino. Afaste-se e você verá como conquisto o que tanto desejei.
- Certo, já me afasto - concordou Sancho. - E espero que seja como o senhor está dizendo.
O que Dom Quixote avistara, na realidade, era um barbeiro indo de uma aldeia a outra. Tendo começado a chover, ele havia colocado a bacia de barbear  sobre a cabeça para proteger o chapéu.

(Miguel de Cervantes Saavedra)

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Quem leu este livro sabe, muito bem, que este capítulo terminaria em confusão. Dom Quixote atacou o pobre barbeiro, Sancho roubou a sela do cavalo do pobre, e eles seguiram seu caminho.

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"Por amor, às causas perdidas. Tudo bem, até pode ser, que os dragões sejam moinhos de vento"

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